20/06/12

O “pensar global, agir local” em prática




Depois de alguns meses de discussão e preparação, um conjunto de pessoas da Assembleia Popular da Graça e Arredores e do grupo de Transição Anjos-Graça decidiu envolver-se no projecto chamado Coletivo de Apoio à Agricultura Sustentável (Community Supported Agriculture) promovido e dinamizado pelo “Projecto 270” na Costa da Caparica. No fim de semana de 9 e 10 de Junho 2012 este grupo juntou-se aos responsáveis do projecto para avançar no processo.


Quais são as características e os objetivos deste projecto?


Para combater a crise: a soberania alimentar


Somos um grupo de 12 núcleos familiares cada um com características diferentes. A partir de Outubro, iremos receber semanalmente legumes biológicos produzidos pelo Projecto 270: a ideia na qual investimos é a de participarmos em todo o processo, a partir das escolhas das sementeiras até ao produto final da nossa alimentação, segundo uma lógica de participação direta, consciente, ativa e de abatimento dos custos para produtos melhores, do que aqueles que se encontram no mercado convencional. A interação direta entre nós “consumidores” e os “produtores”, elimina desde o princípio os custos de intermediação e o dinheiro investido terá o também o objetivo de apoiar projetos locais de agricultura biológica e sustentável, e não continuar a enriquecer proprietários e distribuidores das grandes superfícies.
O objectivo deste nosso encontro foi o de decidir os produtos que queríamos cultivar, as qualidades e quantidades, dependendo das exigências de cada núcleo familiar, das sementes disponíveis, da sazonalidade dos produtos e das características do terreno agrícola. Não haverá assim gasto inútil, porque só será produzido o que for preciso e localmente.


Apoiar uma agricultura que respeita o ambiente e os humanos


De facto só 23 km (ou 18 km de bicicleta) distanciam Lisboa (e os bairros onde moramos), do lugar de produção na Costa da Caparica. Esta distância, contrasta com os milhares de quilómetros que percorrem os produtos convencionais para chegarem aos supermercados da cidade. Além disso, o Projecto 270 produz legumes de forma biológica, biodinâmica e a partir de sementes livres.
O aspeto local do Projeto, não tem só a ver com questões relacionadas com o ambiente, mas também com a possibilidade de conhecer diretamente os produtores e visitá-los cada vez que queremos, partilhar e dinamizar com eles o trabalho que está a ser desenvolvido. Assim de alguma forma, estamos a favorecer uma relação humana sustentável e não de exploração, ou de mero consumo como acontece sistematicamente na agricultura intensiva de onde vêm a maioria dos produtos vendidos nos supermercados europeus. É o verdadeiro comércio sustentável, não são precisas marcas, basta só ver com os nossos olhos e participar.


Uma maneira de manter interações sociais e promover a autogestão


Esta interação e colaboração direta que estamos a promover, é uma forma de solidariedade em dois sentidos: por um lado, os cidadãos apoiam um produtor local que pratica uma agricultura sustentável e livre de químicos, e por outro lado, o agricultor fornece comida a estes cidadãos “urbanos” apoiando a sua soberania alimentar. O pagamento acordado é pago antes do início de cada sementeira e permite partilhar os riscos inerentes à agricultura. Assim pretendemos, manter uma relação estreita entre o ambiente rural e o urbano para nos aproximarmos do conceito e da prática da soberania alimentar e para resistirmos à mercantilização dos bens essenciais, como a alimentação.
Por isso, esta iniciativa é também um ato político de luta contra o sistema dominante que pretende reduzir-nos a simples consumidores. De facto, mostramos aqui que com processo de autogestão e cumplicidade cidadã, podemos decidir a nossa alimentação, como e por quem vai ser produzida.


via > http://assembleiapopulardagraca.wordpress.com/2012/06/20/o-pensar-global-agir-local-em-pratica/